Pecados e Virtudes
Quando penso em algo de mau, penso nele. Penso no sabor amargo das palavras que diz, na luxúria que teima em mostrar, na inveja que o caracteriza.
Foi a pessoa por quem me apaixonei perdidamente. A pessoa que jurei amar para o resta da vida. Mas ele não fez o mesmo.Magoou-me todos os dias.
Contudo, não o amava a ele. Amava a pessoa que idealizei para ele. Um homem maduro responsável, carinhoso, amigo, apaixonante.
O travo da amargura não tardou em chegar. Depressa me apercebi que tudo não passava de um idealismo meu. Era um homem sem escrúpulos, que se vangloriava de tudo, que passava por cima de quem fosse preciso para atingir os seus objectivos. Que não amava ninguém a não ser a ele próprio. No fundo...um verdadeiro monstro.
Durante muito tempo, por de baixo do imenso amor que sentia por ele, perguntava-me o porquê de ele ser assim. Porque tinha de haver uma razão...tinha de haver uma razão lógica para alguém se tornar "Naquilo". Era nisso que eu queria acreditar. Mas acreditar não bastava, tinha de saber.
Um dia, após mais uma desilusão por ver a foma repugnante como ele tratava a sua assistente, decidi perguntar-lhe. Decidi enfrentá-lo.
A resposta foi uma gargalhada estridente. Uma gargalhada enorme que me ensurdeceu de tão cínica que era. Uma gargalhada que me doeu mais do que se ele me tivesse dado um estalo.
Quando parou de rir, olhou para mim e disse, como se fosse a coisa mais natural do mundo, que era assim porque lhe dava gozo. Dava-lhe gozo toda gente o odiar, todos terem inveja dele, todos o querem derrubar, porque isso o tornava mais forte.
Foi então que percebi. O mal-tratar as pessoas, o fazer de conta que os outros não existiam, o prejudicar quem mais gostava dele....era o seu medo. Olhei para ele e ri-me Dei eu mesma uma gargalhada enorme. Não eram os outros que o odiavam, não eram os outros que queriam ser como ele.
Era ele que não gostava do que era, era ele que queria mudar. mas o medo de avançar assim, indefeso, fazia com que ele fosse assim: verdadeiramente repugnante.
Desde esse dia, nunca mais o vi. Mas sei que ele é o retrato fiel da maioria dos que são assim.
[Texto ficcionado para a fábrica de Histórias!]