Entregada. E arrependida.
Não conseguia olhar. Tinha vergonha. Não do que fizera, mas do que me tornara quando o fiz.
Tentei de novo e vi. Vi o meu rosto no espelho e as lágrimas começaram a rolar como se a minha cara de um rio se tratasse. Parecia estar estampado na minha cara o que eu acabara de fazer.
Entregara-me a ti. Com toda a minha alma, com todo o meu desejo, com toda a minha paixão. Na ânsia de sermos felizes, de ficarmos juntos.
Entreguei-me a ti como nunca o fizera antes. Deixei-me levar pelo coração, pelo desejo de acreditar que era a mulher certa para ti.
Quando tudo acabou, quando pensei que tinha todas as razões para sorrir, desci à Terra, caí lá de cima e a queda foi bem aparatosa. Para ti, tinha sido algo normal, como se a minha pessoa de outra se tratasse. Uma qualquer outra. Porque para ti, era isso que eu era: uma qualquer.
Não consegui mexer-me naquele momento. Faltaram-me as forças para encarar-te e deixei que saísses do quarto para pegar nas minhas coisas e ir embora. Subi as escadas do prédio, rodei a chave na fechadura de minha casa com uma velocidade que julgava ser impossível e entrei. Senti-me, então, aliviada; tão aliviada como se estivesse a fugir de um assassino e finalmente tivesse encontrado um lugar seguro para me esconder.
Agora, estou aqui. A olhar-me e a sentir nojo de mim.
Porque me deixei ir pela paixão que faz seres para mim aquilo que eu nunca serei para ti.