Já passava da meia-noite. Estava cansado. O trabalho tinha sido duro e, ainda por cima, o patrão tinha-lhe pedido para ficar até mais tarde.
Apesar do cansaço, não conseguia parar de pensar no que tinha feito. Sentia vergonha de si próprio. Sabia o que o que havia feito não tinha perdão, mas não a queria perder.
Contava-lhe?Era sincero com a única pessoa que sempre amara, mesmo sabendo que a iria magoar e perder para sempre? Ia perdê-la de qualquer das maneiras...e era melhor descobrir por ele.
Dirigiu-se para o carro a fim de ir a casa dela. Apesar das horas tardias, tinha de falar com ela o mais rápido possível. No caminho, viu um casal de namorados a namorar no parque. E sentiu saudades daquilo que sabia que não mais teria.
Estacionou. Respirou fundo. Fechou os olhos. Rezou. Tocou à campaínha e esperou. Esperou uns minutos que a ele lhe pareceram ser os mais longos e dolorosos minutos da sua vida. Ele subiu.
Ela estava linda. Com uma camisa de dormir de seda rosa, o cabelo atado num rabo-de-cavalo perfeito, como se estivesse à sua espera. Ela era perfeita. perfeita demais para ele...
Contou-lhe. Havia dormido com uma outra mulher aquando da despedida de solteiro do seu mehor amigo, há dois dias atrás. Sabia que não significava nada e que só tinha acontecido devido à taxa de álcool no seu sangue..mas tinha acontecido.
Impávida, deixou as lágrimas correr pela cara. Ele era tudo para ela. Ela dedicava a sua vida à forma como eles queriam e viviam a vida. E ele era agora a sua maior desilusão.
Ele percebeu que ela não diria mais nada. Os seus olhos, outrora verdes cristalinos que tanto o enfeitiçavam, estavam agora marejados de lágrimas e tristes, sem o brilho especial dela.Decidiu ir embora para que a dor fosse menor. Fechou a porta atrás de si e chorou. Encostado à porta, ouvia o choro da sua amada e doí-lhe ainda mais. Sentia-se cada vez com mais vergonha de si próprio. Num sussuro, disse um "amo-te" sentido e carregado de culpa. Sabia que ela o ouvira mas não esperava qualquer perdão. Não achava merecê-lo.
Perdera-a. E sabia que com ela, fora também um bocado de si...Irrecuperável.