A minha rua....
8:00.
Começa o burburinho. Começa o agitar das pessoas por entre estas ruas. Mas hoje, eu não faço parte dele. Fico à janela a observar. A tentar perceber a realidade que me rodeia. O mundo do qual faço parte mas a que não sinto pertencer.
A chuva começou a cair há pouco. E os guarda-chuvas dão um colorido fantástico à pequena rua à minha frente. As crianças são quem mais aprecia a água e saltam nas poças à revelia dos pais. Uma inocência bonita.
Vejo uma senhora à janela, tal como eu. Parece-me solitária. Parece-me triste. Mas ao olhar a alegria contagiante das crianças, o frenesim das pessoas a correr para a estação de comboio que é logo ali, fá-la sentir-se viva. Fá-la sentir-se neste mundo. E é tão bom ver esse espelho de felicidade no rosto dela. Um rosto marcado pelas muitas experiências que a vida lhe trouxe. Um rosto que olha para mim e sorri. E eu retribuo com um sorriso que espero que lhe pareça familiar.
Do outro lado da rua, vejo um sem-abrigo. A chuva dificulta-lhe (ainda mais) a vida. Os cartões onde se tem abrigado nas noites gélidas desta cidade, estão agora molhados; começam a desfazer-se à medida que a chuva se entranha neles. E ele não tem nenhuma expressão visível. Nem tristeza…Apenas um olhar vazio.
Desço as escadas, abro a porta do prédio e vou até ele. Chamo-o, peço-lhe delicadamente que venha comigo e levo-o até à entrada do prédio. Sorrio-lhe e ele percebe. Percebe que, pelo menos naquele dia, não apanhará chuva. E, pela primeira vez, ele sorri.
Subo as escadas e sorrio para comigo mesma. Afinal, a chuva deu-me um presente. Fez-me sentir bem. Fez-me sorrir. Fez-me viver.